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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

De passagem em Itacaré-BA....


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Cá estou eu novamente... Bem mudado, transformado, pois definitivamente não sou o mesmo de duas semanas atrás. O que me transformou? Talvez seja bom explicar como tudo começou... Fundamental, eu diria!

No início de dezembro, meu companheiro já de longa data e diversas experiências, chegou a mim com uma "proposta indecente". Ele chegou dizendo mais ou menos o seguinte: "Cara, minha namorada está precisando tirar férias, querendo viajar, mas nossa a grana está curta. A idéia era ir para a praia, porque ela não conhece o mar, mas nosso dinheiro não dá... Passagem de avião é muito cara e a estadia também nessa estação de alta temporada... Mas estive pensando... O que você acha da gente ir de carro para a Chapada? Não vai precisar de muita grana, porque a gente racha o gás, acampa em barraca, faz nossa comida, fica bem à vontade e curte bastante a viagem, sem gastar muito... Afinal a gente é quebrado mesmo". Titubeei. Não tinha (nem tenho!) rendas suficientes para viagem alguma, só uma mísera poupança com um poucos reais guardados. Mas eu sou bem louco. Quase um doido de pedra. Troquei uma idéia com "meu chefe" e consegui arredondá-la para um valor que, segundo as contas previstas pelo nosso planejamento inicial, dava pra essa viagem.

No entanto, nesse ínterim, esse planejamento foi sofrendo diversas alterações para se adequar melhor à nossa realidade. O clima na chapada é muito chuvoso nessa época do ano, talvez a experiência de acampar fosse bem traumática. Outra. Formos descobrindo pela internet que o preço a ser pago por um camping é praticamente o mesmo de boas pousadas. Além disso, todo turismo a ser feito nesses lugares requer um guia, que cobra uma taxa bem salgada por pessoa. E mais. A gente iria viajar num FORD KA. Não iria caber todo equipamento de camping (barracas, colchonetes, cobertas, travesseiros, comida, etc) no porta mala desse mini-carro e talvez o carro não suporte as exigências off-road de uma aventura como essa.

Resultado: esticamos o itinerário uns 500km para alcançar a praia. Nem passou pela nossa cabeça que poderíamos estar forçando um pouco a barra. Isso porque dentro do orçamento planejado os gastos eram praticamente os mesmos. Pesquisamos campings, hotéis, casas e pousadas (God bless the internet!!!). Conseguimos encontrar, em um local paradisíaco, algumas casas com diárias a preços bem atrativos, algo que nos deslumbrou ainda mais. A chapada estava cada vez mais ficando para segundo plano.

A idéia de viajar para a praia era muito mais conveniente para todos. Ficando em uma casa a gente economizaria grana fazendo nossa própria comida, evitando o alto preço dos restaurantes na alta temporada. Mais. Ficando em uma casa, não era preciso levar barraca, colchonetes nem nada disso, liberando mais o "espaçoso" porta-mala" do Ka. Mais ainda. Em uma praia, você não precisa gastar quase nada com turismo em si. Procure a sombra de um coqueiro, estenda sua toalha na areia e curta o visual. Se conseguiu chegar até lá, está pronto. O resto é cortesia. Você só gasta com o que realmente consome, se quiser consumir.

Na alta estação, as casas com preços mais acessíveis são bem disputadas, por isso nós não podíamos perder mais tempo, precisávamos decidir logo e fazer a reserva. Mas, se fizéssemos a reserva, nossos planos mais abertos, de uma viagem mais "exploratória", "experimental" ficavam travados pela necessidade de estar lá na casa no dia combinado. Fizemos a opção mais segura, para não correr o risco de chegar lá e não encontrar um lugar decente para repouso. Reserva feita, o que era plano virou compromisso, a poupança se converteu em despesa. Tínhamos que estar lá no dia 04/01 para dar entrada na casa e pagar a parcela restante. Mas, para dar um tom ainda mais diferente a toda essa empreitada, essa casa só estava disponível por cinco dias e convenhamos que ninguém viaja mais de dois mil quilômetros dentro de um Ford Ka para ficar só cinco dias na praia. Aí, encontramos outra casa, bem mais charmosa, ainda que a um preço mais elevado, mas que dividindo resultava em um preço que compensava a aventura. Decidimos estender nossa estadia na praia, nessa casa, por mais três dias. Isso mesmo, ficaríamos em duas casas diferentes, fechando oito dias, uma mais simples de domingo à quinta e de sexta ao outro domingo na outra, mais bonita e mais bem localizada.

O verde pelo azul. A imensidão verde da chapada pelo infinito azul do mar. As pequenas barracas de lona por uma indefectível cabana de praia toda em madeira. Fizemos nossas apostas. Eu acreditava que tínhamos montado um time dos sonhos que fosse jogar junto, em harmonia, pra gente curtir e descansar juntos, para nos divertirmos juntos. Doce ilusão. Doce ilusão.

O projetado nunca tem a intensidade do vivido. A exata proporção do que distingue uma pessoa da outra só pode ser medida quando elas se colocam lado a lado por tempo suficiente para que as verdadeiras diferenças aflorem no mundo real. Precisamos observar um mesmo tipo de comportamento repetidas vezes para diagnosticar que existe um vício ali. E alguns vícios estão tão bem enraizados, são tão fixos na identidade de uma pessoa que não faz nenhum sentido lutar contra eles, desta forma não podemos sequer lutar contra a pessoa em si. Em alguns casos, os próprios vícios definem a pessoa.

Por "vício" pretendo remeter à sua acepção mais genérica, um comportamento absurdamente linear, como que incapaz de ponderar o que está acontecendo na realidade, antes de tomar uma decisão. É previsível demais. Óbvio demais.

Isso pode ser bom, pois, de certa forma, significa prudência, segurança. Para escolher, você sempre pensa no pior cenário possível, toma a via mais segura e desenha toda sua vida dessa forma. Você tem uma chance menor de errar. Mas pode entrar na conta de erro dos outros. Dessa forma, você pode até chegar bem longe. Mas quando chegar lá, não vai nem saber muito o que fazer.

Pra mim, isso é terrível. Viver pensando somente no seu próprio limite tira o brilho que distingue o que é vivo do que simplesmente está ali só por estar. Ao contrário, a vida não vira uma mera obrigação, um árduo trabalho sem fim, mas um parque de diversão. Ganha mais luz, razão de existir. Nos menores detalhes, você enxerga um imenso universo passível de ser explorado. É a visão alargada que muitos de nós buscamos com tanto afinco.

Percebi que para buscar essa visão alargada, das duas uma: ou nos isolamos negando praticamente toda nossa existência buscando o vazio "búdico" ou nós nos cercamos de pessoas que tenham esse mesmo ideal, o que é muito muito difícil de se encontrar nos dias de hoje. Primeiro porque ainda não deciframos o real significado da palavra RESPEITO. Percebo cada vez mais que Respeitar está muito longe de ser meramente o "calar", o "consentir" com o outro. Respeitar é acolher, afagar, tentar compreender, não-repelir, tentando absorver o que de melhor ali existe. O Respeito precisa de um mecanismo muito refinado de feed-back. Sem essa retro-alimentação não há como ambos os lados envolvidos medirem o seu nível de evolução. Só um lado dispende energia, só ele oscila, só ele cresce ou diminui. Se o outro fica inerte, essa neutralidade pode, então, ser muito nociva. Sem uma verdadeira interação, ou as coisas não evoluem da forma que devem ser, ou elas simplesmente não acontecem.

Foi como essa viagem.

Foi simplesmente uma passagem...

Aconteceu, mas não "Aconteceu"...

E agora já faz parte do passado.

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Humano, demasiado humano - 012



428. Próximo demais - Se vivemos próximos demais a uma pessoa, é como se repetidamente tocássemos uma boa gravura com os dedos nus: um dia teremos nas mãos um sujo pedaço de papel, e nada além disso. Também a alma de uma pessoa, ao ser continuamente tocada, acaba se desgastando; ao menos assim ela nos parece afinal - nós nunca mais vemos seu desenho e sua beleza originais. - Sempre se perde no relacionamento íntimo demais com mulheres e amigos; às vezes se perde a pérola de sua própria vida.


1 Comments:

Blogger Luiz Alfredo said...

Puta merda.
Quanto mais eu penso que o amigo é amigo, mais ele é um malamigo! =D

Seu puto! Como tu chega e não me liga, cacete?! Vocês dois são dois viadinhos caralho!! Eu liguei pra vocês pra deixar subentendido que eram pra me ligar quando chegassem!aff, seu malamigo =D

Me liguem, vamos sair esse final de semana, precisamos conversar sobre muitas coisas meu amigo! Quanta saudade de você =)

Grande abraço

Luiz

Ps: que texto, que texto... precisamos refletir sobre ele, em todo seu conteúdo e forma!

qui. jan. 15, 09:23:00 PM

 

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