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domingo, 30 de novembro de 2008

1001 Discos - 0010


Björk
Medulla
(2004)

DRAMÁTICO

* me.du.la s.f. 1 a parte interior ou profunda de uma estrutura animal ou vegetal 2 fig. a parte mais interna ou central, âmago

O álbum de hoje destoa completamente de tudo que já ouvi na vida. Na mais pura acepção da palavra. A Björk é um ser bizarro, supra-humano. Digo isso sem nenhuma conotação teológica ou hierárquica (...vocês me entenderão...) Mas isso faz todo sentido, talvez não só pela coragem e pela forma de se expressar mas também, pela maneira com que ela conduz todos os seus projetos pessoais.

O som desse álbum te transforma. Através dele, Björk nos faz lembrar o quanto nossa vida é dramática. Não existe algo melhor ou pior. O que é bom sempre poderá ser melhor e o que está ruim pode piorar. Sem maiores contornos, sem nenhuma frescura, sem "meias-palavras". E você não tem controle algum sobre isso. Não existe esse controle, assim como não existe ordem, nem sentido algum em nada, nem regras a serem seguidas. E não adianta muito ficar procurando justificativas pra isso tudo. Porque, sendo muito otimista, é mais provável que você complique e, sendo mais realista, a tendência é que você só piore todas as coisas.

Algumas faixas nem parecem música na forma com que a maioria das pessoas está acostumada. Naturalmente, é bom deixar claro que me incluo nesse grupo. Ao mesmo tempo, a música é tão comovente, é algo que grita de uma forma tão pura e humana à nossa alma que não há como desmerecer tal obra de arte. Ao mesmo tempo em que é, ele não é música, em sua forma conceitual e estrutural. Ele arebenta com conceitos pré-concebidos na mesma proporção em que se auto-define de maneira radical. Trata-se de algo que, na verdade, transcende a realidade de tudo que a maioria de nós conhece como música.

Uma idéia já bastante concreta que eu possuía em relação à música era a de que ela é algo primariamente voltado para pessoa se divertir. Era. Pra mim, isso agora não existe mais. O "Medulla" com toda sua leveza e simplicidade, fulminou, dinamitou algo que eu possuía como muito verdadeiro e concreto marcado profundamente na minha identidade, no meu coração.

Descobri em Björk a minha antítese. O oposto. O timbre da voz dela parece atingir direto nossa espinha dorsal. E não há que se duvidar da existência desse universo paralelo, totalmente avesso ao nosso.

Para se entender melhor o por quê de tudo isso que estou dizendo é de suma importância que se atente ao seguinte detalhe, um aparente absurdo: a "base musical" desse disco é extremamente SIMPLES.

Sério, acredite! Quando digo simples, é simples DE VERDADE. O álbum inteiro foi feito utilizando como base o aparelho vocal e a respiração. Isso mesmo, só VOZ e SUSSUROS. Inspiração e expiração. Não há maneira de se soar mais humano, mais carnal do que essa. Uma ou outra faixa possui um sintetizadores ou samples aqui e acolá. Mais nada. Algumas melodias são absurdamente lindas e podem até soar coerentes aos nossos ouvidos, mas isso somente à primeira vista. Porque é um desafio enorme você tentar conceber um ser humano explorando a própria voz com tamanha elasticidade.

A seqüência das músicas é cuidadosamente elaborada alternando músicas bem lentas e minimalistas (algumas somente com voz
à capella) e outras músicas mais agitadas com sons chocantes de expiração e inspiração e beat-box. Todas as camadas vocais meticulosamente encaixadas e formando uma harmonia bem diferente do habitual. Aliás, essas camadas são um aspecto muito muito importante desse disco. Como ele é inteiro gravado praticamente só com vozes, as interessantíssimas sobreposições vocais são detalhes que não passam despercebidos de forma alguma.

Se você tiver a ousadia de escutar esse disco de peito aberto, sem criar nenhuma barreira, você passará por uma transformação. A realidade musical desse álbum é totalmente distinta e incomum. A experiência de descobrí-lo é ímpar. Mas, fica o alerta. O golpe pode, e, sem dúvida vai, atingi-lo muito, mas muito mais profundamente do que você sonha imaginar.


* dra.má.ti.co adj. 3 que causa aflição ou emoção; comovente

Medúlla
Studio album by Björk
Released August 30, 2004 (UK)
Recorded Greenhouse (Iceland),
Estúdio Ilha Dos Sapos (Brazil),
La Hoyita Studios (Spain)
Genre A cappella, Beatboxing, Folk, Alternative, Avant-garde music, Throat singing
Length 45:40
Label US: Atlantic Records, One Little Indian
Producer Björk, Mark Bell, Valgeir Sigurðsson


All songs written by Björk unless otherwise noted.

1. "Pleasure Is All Mine" (Björk, Tagaq, Mike Patton) - 3:26
2. "Show Me Forgiveness" – 1:23
3. "Where Is the Line" – 4:41
4. "Vökuró" (Jórunn Viðar, Jakobína Sigurðardóttir) – 3:14
5. "Öll Birtan" – 1:52
6. "Who Is It (Carry My Joy on the Left, Carry My Pain on the Right)" – 3:57
7. "Submarine" – 3:13
8. "Desired Constellation" (Björk, Olivier Alary) – 4:55
9. "Oceania" (Björk, Sjón) – 3:24
10. "Sonnets/Unrealities XI" (Björk, Cummings) – 1:59
11. "Ancestors" (Björk, Tagaq) – 4:08
12. "Mouth's Cradle" – 4:00
13. "Miðvikudags" – 1:24
14. "Triumph of a Heart" – 4:04
15. "Komið" (Japanese bonus track, iTunes release) – 2:02

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