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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

1001 Discos - 0018


Sepultura
Roots
(1996)

Ordem e Progresso?

O álbum de hoje veio pra detonar. É isso aí. "VAMO DETONÁ ESSA PORRA, É, PORRA!!!". Que adolescente (da década de 90) não se identifica de bate-pronto com estes versos urrados por Max Cavalera na música "Ratamahatta"? No meu caso é instantâneo. Independentemente de se gostar ou não do estilo de música explorado pelo Sepultura, o legado que eles constituíram chegou ao seu ápice no álbum "Roots".

A banda dos irmãos Max e Igor Cavalera - juntamente com Andreas Kisser e o baixista Paulo Jr. - desde o seu início demonstrava que não iria fazer feio representando o Brasil no estilo trash metal mundo afora. Mas os três primeiros álbuns soam imaturos de alguma maneira. Estão mais ligados ao estilo hardcore, com uma menor liberdade criativa.

A partir do álbum "Arise" e "Chaos A. D." o Sepultura começava a demonstrar que realmente poderia incorporar novos elementos a um estilo de música que tradicionalmente é muito conservador. Porque, por incrível que pareça, o "heavy metal" em sentido genérico não é nada propenso às mudanças. O estilo pode ser agressivo, bem radical, mas a estrutura das músicas e das bandas em si são sempre as mesmas.

Foi aí que o Sepultura conseguiu inovar. A banda voltou às raízes genuinamente brasileiras e conseguiu incorporar isso ao som da banda de tal maneira que o resultado ficou espetacular. Na verdade, não seria nada absurdo considerar o "Roots" como um álbum à parte no cenário da música mundial e em relação ao próprio Sepultura.

Quando digo "voltar às raízes bem brasileiras" é pra se levar bem ao pé-da-letra mesmo. O álbum foi inspirado em uma temporada que a banda passou em convivência com a tribo Xavante. Isso contribuiu muito para que pelo menos parte da imensa riqueza cultural desses povos indígenas fosse difundida mundialmente. Mas não se enganem. Isso não foi meramente uma válvula de escape para a projeção do Sepultura fora do Brasil.

Antes mesmo do lançamento do "Roots" o Sepultura já desfrutava um grande prestígio internacional sendo uma das principais bandas do estilo, estando sempre presente nos principais festivais de metal do mundo. Uma evidência de que isso é verdade é a participação especial do badaladíssimo Mike Patton, do Faith no More, na faixa "Lookaway" do Roots. Essa parceria Patton-Sepultura já vinha de algum tempo mas foi nesse álbum que ela se consolidou de forma mais significativa.

Mas como, exatamente, a influência "Xavante" contribuiu para o enriquecimento musical do Roots? De inúmeras formas, mas sobretudo na área da percussão. A diversidade rítmica e percussiva desse álbum é enorme, além de ser algo totalmente sem precedentes ainda mais associado a um gênero de música pesada. Além disso, a música "Itsári" nos mostra toda a capacidade criativa da banda, toda sua coragem e ousadia.

O violão clássico acompanhando a tribo com a riquíssima percussão. É lindo e ao mesmo tempo parece mexer de verdade com todas as nossas bases, com tudo que acreditamos ser o nosso alicerce, enquanto brasileiros. Só assim podemos enxergar o quanto nós estamos formatados pela cultura ocidental, seja americanizada, seja a européia. Talvez esse disco seja um dos poucos - senão o único - dessa imensa lista que contenha esse elemento tão verdadeiramente "
tupiniquim". Na minha modesta opinião, acho que todos os brasileiros, TODOS, deveriam ter essa noção. Deveriam saber, deveriam sentir ne pele, pelo menos um pouco do gostinho que alguns desses elementos que estão contidos no disco nos oferecem, coisas que facilmente remontam à sua, à nossa origem, verdadeiramente nacional.

O disco pode assustar logo no início. Não é tão simples assim conseguir digerir logo de cara os urros de Max Cavalera em "Roots Bloody Roots". Mas se você se predispor a vibrar na mesma frequencia da banda não tem como não se arrepiar. A competência de todos os músicos é indiscutível. Igor Cavalera é impecável nesse álbum. As guitarras, na maioria com afinação baixíssima, também colaboram muito para dar ainda mais peso ao ambiente.

O berimbau na intro de "Attitude" mostra que há também influência da música baiana, do grupo Olodum, em algumas músicas. A mais significativa é a própria "Ratamahatta", já citada, que conta com participação do compositor Carlinhos Brown.

Das letras, pouco se pode entender nos vocais de Max Cavalera, mas os temas demonstram que a banda também não decepcionou nesse quesito. Mas, sem dúvida, é na música em si que eles conseguiram brilhar com mais intensidade.

O Sepultura demonstrou com enorme competência que os traços culturais do Brasil podem, sim, ter grande destaque internacional e ser motivo de orgulho para todos nós. Além de nos mostrar o quanto estamos regredindo com o nosso aparente "progresso".



Roots
Studio album by Sepultura

Released March 12, 1996
Recorded October-December 1995 at Indigo Ranch in Malibu, California
Genre Alternative metal
Length 72:09
Label Roadrunner
Producer Ross Robinson, Sepultura


Track listing
# "Title"

01 Roots Bloody Roots
02 Attitude
03 Cut-Throat
04 Ratamahatta
05 Breed Apart
06 Straighthate
07 Spit3
08 Lookaway
09 Dusted
10 Born Stubborn
11 Jasco
12 Itsari
13 Ambush
14 Endangered Species
15 Dictatorshit
16 Canyon Jam

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6 Comments:

Blogger Luiz Alfredo said...

Ah caramba.
Um dos cds que eu mais ouvi na minha vida.
E em uma época que eu tinha uma certa restrição a musica menos melódica.

Mas realmente, fui pego pelas raízes. A sessão rítmica é indescritível, calcado em algo como 'clamor da floresta'. Lembro de uma reportagem em quem o Igor aparecia dançando com os xavantes, aquela grande roda, todos batendo os pés no chão e entoando cânticos.

É um pouco difícil desvencilhar do vocal do Max pra quem não é acostumado (meu pai falava que ele estava arrotando??). Mas o baixão do Paulo Jr ressona com a batera do Igor perfeitamente, afinado muito abaixo!

E peso. Peso. Peso.

Como essas coisas acontecem na vida, no mesmo ano eles se separaram. Não dá pra acreditar ...

seg. fev. 02, 02:22:00 PM

 
Blogger Gabs said...

Links atualizados

Tem o álbum em RAR também.

Entre e divirta-se!!! =D

Pass.: "8654324"

qui. fev. 05, 01:39:00 PM

 
Anonymous Anônimo said...

mirror: http://lix.in/-55e0d3

qui. ago. 13, 08:53:00 PM

 
Anonymous Gadhego said...

Nossa, melhor resenha do Roots que eu já li! Eu não sou adepto do metal, ouço mais punk/grunge, porém tenho que admitir que esse CD é genial! Tenho 16 anos e resolvi não estagnar na música, resolvi abrir a cabeça. A cada dia que passa, cada vez mais. O Sepultura é do Brasil mesmo, com qualquer formação e eles levaram e continuam levando o nome do nosso país pro mundo inteiro, e fazem isso da melhor forma possível. Nesse CD eles deram um tapa na cara de muita gente, mostrando que nós devemos valorizar nossa cultura, nossas raízes e fizeram os gringos conhecerem um pouco dela. Sepultura é um exemplo para as bandas novas e pequenas a nível de comparação, que não chegam perto do patamar deles e que se julgam "Made in USA", se acham "as melhores bandas, incríveis, invencíveis", e simplismente não se importam com nosso Brasil, a nossa terra. Uma banda de metal 100% Brasil, já consagrada na época, influente, que misturou tudo e fez um álbum épico. Isso é Sepultura! Os caras são foda mesmo porque nunca renegaram nosso país, o que eles são, o que nós somos (e nem vão renegar) e também tinham tudo pra se tornarem "rockstars" intocáveis, e fizeram (e ainda fazem) exatamente o contrário, mostraram que não existe isso, todo mundo é igual. Humildade sempre! Sepultura é Minas Gerais (nossa terra boa), é Roots, do Brasil!

qua. jan. 20, 01:11:00 PM

 
Anonymous Anônimo said...

cara o certo é THRASH (agreção) e não TRASH (lixo) e o heavy metal não é sempre o mesmo, isso é papo de poser que ouviu master of puppets e se acha o especialista.

sáb. jan. 23, 05:58:00 PM

 
Blogger Gabs said...

ok! obrigado pelo comentário!

só não encontrei o vocábulo agreção no dicionário...
talvez conste "agressão", mas aí tú que tem q me dizer...

vivendo e aprendendo, meu amigo...

podes ser um especialista em metal mas andou faltando as aulas do nosso básico e cotidiano portugues!

obrigado pela correção, só acho que o mínimo de credibilidade de tua parte poderia ser demonstrada pela coragem de assinar um comentário nesse humilde blog!

abraço! boa semana!

seg. jan. 25, 04:14:00 PM

 

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