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Desfeitos os nós que teimavam em permanecer atados, aqueles incômodos nós que nós mesmos criamos. Mas que, às vezes, surgem do além, aparecem do nada mas que praticamente te obrigam a desfazê-los. Me sinto melhor agora. ...alívio...
Goiânia-Lençóis-Itacaré...
Um desafio sem precedentes. A mensagem original ainda vive, ali, na minha caixa de e-mails. O dia era 09 de dezembro de 2008. Nesse dia surgiu a tal "proposta indecente". Vinte e cinco dias. Foi esse o tempo que tivemos para planejar, discutir, organizar tudo. Isso porque no dia 02 de janeiro já estávamos saindo de Brasília. Ao longo desses dias aconteceram umas três ou quatro reuniões em que nós quatro estávamos presentes para que fosse decidido o trajeto, os locais de estadia, pesquisa sobre as condições das estradas entre outros detalhes. O carro, um Ford Ka. Outro desafio. Pelo tamanho somente, porque a mecânica dele esteve impecável durante toda a viagem. Mas é literalmente um besourinho aquele carro. Tanto que nos fez desistir rapidamente da idéia de acampar por não ter onde levar barracas, colchonetes e travesseiros. Na verdade, além das malas e dos itens básicos de viagem não caberia nem uma cueca a mais naquele porta-malas. O carro foi estufado.
Originariamente, nosso destino seria a Chapada. Um destino realmente mais modesto e rústico. O preço da alta temporada, no entanto, nos fez repensar a idéia. O turismo já é bem desenvolvido nesses locais e dominado comercialmente. A previsão do tempo, sempre indicando chuva nas principais regiões, também contou um ponto contra. Como nós estávamos de carro mesmo, resolvemos estender nosso itinerário para as Costas do Dendê e a Costa do Cacau na Bahia.
Para isso precisaríamos atalhar por algumas rodovias estaduais para chegar na parte de cima do litoral baiano. Mas as rodovias estaduais da Bahia não estão nas melhores condições e, no final das contas, nós resolvemos ir mesmo direto para Itacaré, pegando as melhores estradas. Entretanto, ninguém abria mão de passar pela cidade de Lençóis, um dos principais pontos da Chapada Diamantina. O caminho ficava mais longo, mas vale totalmente a pena. Que paisagem! Todo mundo devia passar um dia viajando por aquelas rodovias. Mas prepare-se para o mais intenso calor do sertão nordestino. Para sentir na pele todas as sensações e toda a força desse ambiente só indo em um carro sem ar-condicionado e sem insulfilm.
No primeiro dia de viagem, o dia 02 de janeiro, fizemos mais de 1000 quilômetros. O trajeto Brasília-Lençóis via Barreiras foi percorrido com tranquilidade. Estávamos com a energia lá em cima, tudo preparado, lanches, tudo conforme o roteiro. Pra mim o único trauma desse dia foi com os meus CD's de mp3 que, por meu próprio descuido no momento da gravação, não tocaram no som do carro. Parece que era mesmo pra ser uma viagem silenciosa, mais voltada para reflexão do que para qualquer outra distração. De resto, foi tudo perfeito. Os horários do nosso roteiro estavam plenamente sincronizados com o que ia acontecendo na estrada. Os sanduíches, preparados tanto para evitar a "suspeita" comida de beira de estrada, como para evitar a perda de tempo, foram um sucesso. Estavam deliciosos, com um tomatinho que os deixaram frescos e suculentos durante toda viagem. Todo mundo comeu e ficou bem feliz.
A chegada em Lençóis é qualquer coisa de cinema. A cidade é construída em um buraco no meio da serra e a estrada de acesso é linda e muito bem conservada. A mata parece querer invadir o asfalto e, em certos trechos, chega a fazer um belo túnel verde para os carros que passam por ali. Nessa hora, me lembro muito bem, estávamos felizes e aliviados ouvindo, claro, "One Sweet World" do DMB e, por todo esse cenário, digo que esse foi um dos momentos mágicos dessa viagem. Chegar em um local como aquele, depois de rodar mais de 1000 km em um único dia, ouvindo versos como "So let us sleep outside tonight / Lay down in our mother's arms / For here we can rest safely " foi algo mágico.
Mas estávamos cansados. Em Lençóis não tinha nada marcado, reservado. Estava anoitecendo e precisávamos encontrar uma pousada. Rodamos bastante para pechinchar e acabamos encontrando uma pousada muito charmosa, na beira de um rio, por menos de 30 reais por pessoa com direito a café da manhã. Por lá ficamos. À noite saímos para um passeio à pé pela cidade. E que cidade! Nunca vi algo parecido. A cidade respira democracia. Nada é proibido. As pessoas que lá estão são incrivelmente tranquilas. Não tem nem de perto o ar urbano, que mesmo qualquer cidade pequena de interior possui. Lá você não precisa se esconder. Além disso, a cidade tem aquela cara charmosa da Bahia, com casas rústicas, antigas e coloridas. Sentamos num boteco que estava lotadíssimo, demoraram para nos atender, mas ninguém estava nervoso ou preocupado. Tomamos uma Nova Schin (isso mesmo! era o que tinha...) mais para matar a sede e ficamos ouvindo uma banda mandando um som eletrônico no meio da rua. Depois, como demorou para descer a segunda cerveja, nós fechamos a conta e fomos procurar um restaurante para comer qualquer coisa que não fosse sanduíche. E adivinha. Comemos AQUELA picanha na chapa deliciosa tomando, aí sim, uma Bohemia, que estava trincando. De aperitivo, todo mundo tomou uma pinga que não me lembro o nome, mas que é produzida ali na região da Chapada mesmo. Comemos demais. Acompanhavam a carne um feijão tropeiro delicioso, uma mandioquinha cozida, um vinagrete especial e o tradicional arroz branco.
Voltamos para a pousada, felizes, sorridentes, tropeçando nos paralelepípedos...
E fomos dormir.
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