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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vai decolar? (Parte 1)



Pois é. Acredite! O Brasil decolou e chegou à capa da edição dessa semana da revista "The Economist", uma das mais influentes do mundo na sua área. Tá! Mas e daí? Que importância isso tem pra sua vida? Reflita, com calma.

Pense bem. Isso merece, sim, uma reflexão pois vai fazer muita diferença na vida de todos brasileiros a partir de agora e também num futuro não muito distante.

De cara, a própria capa deixa evidente que a porção "poderosa" do mundo começou a olhar o Brasil com "outros olhos" e que eles já começam a enxergar a possibilidade de que talvez tenha chegado a vez do nosso país "tentar" sair do marasmo do subdesenvolvimento. Mas peraí. Nesse ponto paira uma pergunta no ar: será, então, que isso significa que o modelo de gestão adotado pelo atual governo brasileiro é mesmo um tremendo sucesso?


Vamos com calma. Também não cheguemos a tanto. Sucesso talvez não seja a palavra mais adequada. A expressão que melhor encaixaria ali, na minha opinião, seria badalação.

O Brasil é o país do momento. O Brasil seria o grande "pop-star emergente" que estaria reivindicando seu lugar no "tapete vermelho" frequentado pelas nações mais poderosas do planeta. Para que consigamos captar bem o que está acontecendo de verdade é preciso compreender melhor alguns do referenciais envolvidos nessa questão.


Dentro do contexto econômico global fragilizado, na ressaca de uma crise financeira mundial, o Brasil conseguiu concentrar e chamar para si o foco de discussões que vão desde os acordos climáticos até às olimpíadas, ou então, a descoberta de novas reservas para produção de petróleo e a próxima copa do mundo. Mas o que isso significa de fato? E como isso pode se refletir no nosso cotidiano?

Muita coisa ou nada. É subjetivo. Depende de cada um. Se você não se importa com o imposto embutido no preço daquele "cigarrinho" ou do choppinho do final da tarde, ou então, se será possível trocar de carro nesse final de ano ou se você não dá a mínima bola para a coerência do preço daquele imóvel que você achou interessante, e acha que conseguirá comprá-lo mesmo assim, realmente nada disso vai interferir na sua vida.

Acredite. Você, eu, todo mundo é movido e influenciado pelas reações advindas das decisões políticas tomadas por quem detém o poder de interferir significativamente na economia. Não há como fugir disso.

E no Brasil esse poder está, como nunca esteve desde os tempos da monarquia, nas mãos de um homem cujo nome lembra mais um molusco, ou melhor, um animal de "corpo-mole". Mas, ainda assim, vale destacar que trata-se de um homem com uma retórica engenhosa e muito articulado politicamente. Em um debate ele é capaz de derrubar até os mais geniais pensadores e grandes idealistas que existem no nosso país. Até mesmo grandes líderes mundiais ficam estupefatos diante de alguns discursos do presidente.

Utilizando-se dessa sua grande qualidade, ele conseguiu, no Congresso, simultaneamente neutralizar o poder da oposição e colocar o partido que compõe a maioria da bancada a seu favor (valendo-se de meios um tanto quanto "questionáveis" para tanto). Isso, portanto, não veio sem algum ônus para a sua imagem. Mas o que quero frisar com isso é que ele sempre teve caminho livre para governar e fazer o que bem entendesse no país nesses últimos oito anos. E, verdade seja dita, fez pouco. Muito pouco. Fez pouco? Como assim? "Como ousas?" - poderia questionar alguém. "Isso contraria a lógica" - poderiam argumentar alguns. Mas permita-me discordar.

Pensemos um pouco sobre o que significa esse aclamado "sucesso" da gestão política no Brasil. Copa do mundo? Olimpíadas? Pré-sal? Convenções climáticas? Megaempresas estruturadas em setores estratégicos da economia (Petrobrás, Vale, Gerdau, JBS)? Economia forte e consolidada? Mas a pergunta que devemos fazer é: o quanto disso se deve a alguma ação própria do atual governo? E mais: estamos no rumo certo? Será que os investimentos estão sendo feitos em áreas verdadeiramente promissoras, que poderão render bons frutos adiante, sem o risco de sermos afetados pelas constantes e inevitáveis turbulências inerentes ao sistema capitalista?

É preciso que todos tenham consciência de que o Brasil está entrando de cabeça no olho de um furacão. E por mais que os brasileiros queiram acreditar que a crise mundial tenha sido apenas uma "marolinha", isso não existe, é pura ilusão. A crise derrubou empresas e bancos gigantes, muito poderosos e deixou sequelas que mesmo com imenso esforço e ajuda dos governos nacionais, demorarão anos, senão décadas, para cicatrizar.

Mas hoje, por incrível que pareça, o cenário otimista está de tal forma estabelecido que dizem que a "tendência" é que o Brasil assuma o posto de quinta maior economia do mundo antes de 2014, superando super-potências como a Grã-Bretanha e a França. No entanto, mesmo dentro do cenário mais favorável possível, considero tal avaliação superficial ou mesmo um tanto tendenciosa. Por que?

Vamos por partes. Primeiramente: petróleo e toda questão da pré-sal. Além do interesse econômico direto, os governantes pretendem também indiretamente tirar proveito "político" (vulgo voto) de uma descoberta desse porte. E, via de regra, conseguem. Não tenha dúvida de que esse será um dos trunfos da campanha da futura candidata à sucessão na presidência da República, atual ministra da casa civil. Mas, se formos colocar um pouco de ordem nas coisas, para que o político mereça o voto de alguém, ele precisa provar (ou
pelo menos prometer) que conseguirá reverter toda essa "riqueza natural" em benefício direto para a toda a população. Em outras palavras, é preciso que exista planejamento adequado e um projeto digno, ético e sobretudo transparente da gestão de todos os recursos envolvidos na administração de algo desse porte. E convenhamos, isso ainda não foi posto em prática. Tudo o que hoje existe é um mero esboço do que pode vir-a-ser, portanto de forma alguma é passível de avaliação política coerente.

Além disso, é preciso lembrar que o petróleo, no que diz respeito ao seu aproveitamento como combustível, tende cada vez mais ao desuso, devido ao fato de se chocar de frente com outra questão primária e não menos urgente, na qual inclusive o Brasil assumiu - já há algum tempo - uma importante liderança internacional, que é a do Meio Ambiente e de Mudanças Climáticas. Contraditório como só o Brasil consegue ser, não é mesmo? É fato: o mundo inteiro busca fontes alternativas de energia e também de matéria-prima ao petróleo e o Brasil corre o risco de ficar estagnado e condenar boa parte dos recursos da área de ciência e tecnologia a ficarem amarrados ao ramo do petróleo.

Assim sendo, a pergunta que deve ser feita é a seguinte: Quão verdadeiramente sustentável será esse súbito desenvolvimento do Brasil? E por "sustentável" não me refiro só ao contexto "ecológico" do termo, mas principalmente ao seu sentido literal. Será esse um caminho seguro para investirmos a maior parte de nossa força produtiva? Não acredito. O petróleo possui a interessante característica de naturalmente servir bem aos interesses capitalistas de concentrar recursos nas mãos de poucos indivíduos. Cai como uma luva. Contudo, já está passando na hora de acordarmos e começar a pensar em pulverizar diferentes matrizes energéticas ao longo do território (sob uma perspectiva diferente, mas igualmente aplicável a experiência do apagão do dia 10 de novembro também corrobora essa ideia). É a tendência no mundo todo, inclusive no Oriente Médio, onde o petróleo impulsionou um desenvolvimento impressionante. Essa estratégia, a priori, pode até parecer inviável, de alto custo e de fato demandaria um investimento bem robusto, mas a longo prazo é consenso entre os especialistas e técnicos da área que seria a opção mais desejável.


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