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sábado, 9 de janeiro de 2010

O Medo da Obsolescência


Hoje mais cedo estava passando pela portaria do meu prédio e sem querer me deparei com um condômino desconhecido reclamando com o porteiro das pedrinhas brancas que decoravam uma singela floreira do meu prédio. "Essas pedrinhas brancas dão uma ideia de pobreza. É ridículo um prédio hoje ainda usar essas pedras brancas para decorar as floreiras...". Pelo que consegui reparar, o tiozão devia ter lá seus 55 e lá vai fumaça, usava uma camiseta gola polo bege, que não disfarçava nem um pouco o abdome proeminente, sandálias de couro e um óculos de armação grossa marrom. Parecia o shidoshi, só que bem mais velho. Pensei: "Esse homem deve estar se vendo refletido nessas pedrinhas, só pode...". Não sou de criar confusão com vizinho, ainda mais aqueles que não conheço, resolvi ficar na minha. Mas não pude deixar de refletir um pouco sobre esse acontecimento.

Atualmente, parece que é crime ser obsoleto. E isso vale pra tudo e pra todos. As pessoas chegar a ter vergonha de assumir o que são ou mesmo o que têm e o que conquistam porque tudo isso pode já ser "ultrapassado". Talvez por isso os jovens hoje busquem se destacar no meio da multidão com esses visuais esdrúxulos que vemos por aí. Como a internet aumentou a velocidade e ampliou as possibilidades de comunicação, nesse pacote veio junto uma enorme ansiedade de ser notado e de se criar uma identidade própria, mas o que ocorreu na verdade foi que tudo isso afastou mais as pessoas umas das outras, no sentido da convivência e da troca de experiências.

No entanto, o processo de cristalização de uma identidade não se dá de uma hora pra outra. Deve sim, acontecer de uma forma mais natural. Não existe um modelo ideal de personalidade para se fazer download na internet. Nem para se comprar no shopping. Ou mesmo no cinema ou nos livros. Não.

É preciso que as pessoas se atentem mais para o que elas querem de verdade. Isso parece um clichê, mas mesmo falar que as coisas são clichê virou clichê, e assim indefinidamente então o foda-se maiúsculo pra esse argumento já está dado. Porque, afinal, descobrir as próprias vontades é o que há de mais difícil de se conceber. E talvez por isso seja algo muito valioso. Os mais superficiais, por exemplo, querem apenas dinheiro, carrões, mulheres pré-fabricadas. Alguns pensam em casamento, família-feliz, filhos. Outros querem porra-loquice, beber-todos-os-dias, fumar maconha e "otras cositas" mais além, viver contentes de amor e ilusão. Uns querem só sexo. Outros dizem que não funcionam se não existir amor. Então, o que é bom de verdade? O que é bom pra você? Um "mix" disso tudo? É possível?

Isso depende de como você se enxerga num futuro não muito distante. Se você quer parecer um bom rapaz, papai-de-família, fazendo papa pra moleque, acordando na madruga (não pra vomitar da bebedeira) mas pra fazer nenem dormir, e não se importa em dizer adeus ao seu lado mais rock n roll, siga o rebanho e seja feliz. Pelo menos aqui no Brasil, a maioria tenta esse caminho. Culturalmente, parece ser mais cômodo. As chances de você sentir as fortes dores da solidão serão bem menores. O isolamento machuca mesmo. E, se não estou enganado, esse é um dos maiores medos do ser humano: ficar/ser sozinho. Mesmo sem perceber lutamos intensamente contra essa tendência.

Depende também de você aceitar um pouco o seu próprio jeito de ser. Tentar bancar o cara legal o tempo todo, o descoladão, boa-pinta, coisa e tal provavelmente só vai fazer de você uma pessoa mais chata, brega e sem-noção. Mas se você é o chato, não fique constrangido logo de cara com esse comentário. Pode ser que as pessoas gostem de você justamente por essa sua característica. Vê como tudo isso precisa de um pouco de reflexão antes de ser definitivamente "julgado"?

Então, bicho, não tenha medo de mudar. Mas também (e principalmente) não tenha medo de se manter o mesmo, em alguns aspectos fundamentais. Pode parecer confuso e é de fato.

Afinal, eu sou assim e isso eu não vou mudar nunca.


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